Anselmo Alves
escancaram a mala de seus carros exibindo, como pavões emplumados, seusmoderníssimos equipamentos de som e vídeo na execução exageradamente alta doscds e dvds dessas bandas que se dizem de forró eletrônico. O que fazem ospromotores de justiça, juízes, delegados que não coíbem, dentro de suas áreasde atuação, esses abusos?Quando Luiz Gonzaga e seus grandes parceiros, Humberto Teixeira e Zé Dantascriaram o forró, não imaginavam que depois de suas mortes essas bandas que hojese multiplicam pelo Brasil praticassem um estelionato poético ao usarem o nomeforró para a música que fazem. O que esses conjuntos musicais praticam não éforro! O forró é inspirado na matriz poética do sertanejo; eles se inspiramnuma matriz sexual chula! O forró é uma dança alegre e sensual; eles exibem umacoreografia explicitamente sexual! O forró é um gênero musical que agrega váriosritmos como o xote, o baião, o xaxado; eles criaram uma única pancada musicalque, em absoluto, não corresponde aos ritmos do forró! E se apresentam comobandas de 'forró eletrônico'! Na verdade, Elba Ramalho e o próprio Gonzaga jáfaziam o verdadeiro forró eletrônico, de qualidade, nos anos 80.Em contrapartida, o movimento do forró pé-de-serra deixa a desejar na produçãode um forró de qualidade. Na maioria das vezes as letras são pouco criativas;tornaram-se reféns de uma mesma temática! Os arranjos executados são parecidos!Pouco se pesquisa no valioso e grande arquivo gonzaguiano. A qualidade técnica evisual da maioria dos cds e dvds também deixa a desejar, e falta uma produçãomais cuidadosa para as apresentações em geral.Da dança da garrafa de Carla Perez até os dias de hoje formou-se uma geração quese acostumou com o lixo musical! Não, meus amigos: não é conservadorismo, nemsaudosismo! Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho! Que o digamChico Science e o Cordel do Fogo Encantado que, inspirados nas nossas matrizes
musicais, criaram um novo som para o mundo! Não é possível qualidade de vidaplena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual eao alcoolismo!Escrevendo essas linhas, recordo minha infância em Serra Talhada, ouvindo omaestro Moacir Santos e meu querido tio Edésio em seus encontros musicais, cadaum com o seu sax, em verdadeiros diálogos poéticos! Hoje são estrelas no céu doPajeú das Flores! Eu quero o meu sertão de volta! Ainda bem que podemos contar com Flávio José, apontado por Dominguinhos comoseu herdeiro; o patriarca Antônio Barros com suas Cecéu e Maíra; SantannaCantador, natural de Juazeiro de Padre Cícero e com um timbre muito semelhanteao de Gonzaga; e outros astros do forró de pé de serra, para os quais avulgaridade do duplo sentido pornográfico das 'bandas' eletrônicas (como aCalcinha Preta) não é somente uma questão de decência, mas de sobrevivência,impedindo que o forró de pé de serra seja sepultado no sertão pelocomercialismo urbano das bandas de Manoel Gurgel.