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terça-feira, 6 de maio de 2008

Polícia e Ladrão

Autor Sidey Tobias de Souza

Olhei pela janela e me recordei do tempo em que garoto eu era. Do tempo em que brincávamos na rua para gastarmos as nossas energias infanto-juvenis. Entre as brincadeiras Polícia e Ladrão não faltava, afinal, correr atrás um do outro, além de gastar muita energia é sempre divertido. Havia meninos que por influencia da educação paterna ou por princípios pessoais não se viam no papel de ladrão e queria sempre ser polícia. Já outros achavam mais divertido fugir dos perseguidores do que perseguir os fugitivos e escolhiam ser ladrão. Havia também troca de tiros saídos dos nossos dedos indicadores apontados para os nossos amigos oponentes. Como os tiros eram de mentirinha, não feriam nem matavam, serviam apenas para proporcionar os efeitos sonoros de nossas cordas vocais. Era um festival de pá pá pá e pó pó pó e só. Para prender um gatuno, bastava alcançá-lo, tocar em seu corpo e gritar, preso. O cárcere era um cantinho qualquer e todos os capturados ficavam atrás das grades imaginárias. AH! Em tempo, todos eram capturados com vida. Fugir! Era possível somente quando um membro do bando driblava a segurança e tocava no preso. Como já disse, eu estava na janela e observava lá em baixo no pátio a molecada gastando energia. Após um par ou impar, como se faz para dividir a turma pro futsal, o grupo foi dividido em dois. Assim como os garotos se autodenominam com nomes de craques no futebol, o líder dos polícias bradou o primeiro nome que lhe veio ao pensamento: capitão Nascimento. O líder dos ladrões não deixou por menos e gritou no mesmo volume um nome que não vou repetir agora, pois de bandido não pretendo encher a bola.
Pensei comigo, a mídia faz heróis ou ao menos impreguinam a nossa mente com nomes que faríamos bem em esquecer. Quando a minha atenção retornou para o pátio, era uma correria só. Não havia sirenes vocais como no meu tempo mas os tiros estavam lá ratatatata ta. E eles não saíam do indicador mas do braço esquerdo inteiro apontado para frente sendo que a mão direita era usada para disparar a, suponho, imensa e pesada arma mortífera. Fui interrompido pelo interfone, aviso de correspondência. Porém, assim que voltei a janela, pude perceber que toda aquela artilharia fizera muitas baixas. Havia por todo o pátio garotos imóveis ou pelo menos quase, com as mãos sobre o local onde fora alvejado. Pelo menos não há sangue, pensei.
De repente ali, debaixo da minha janela, um grupo de polícias fazem valer sua estratégia e conseguem deixar acuado o último ladrão do bando. Perdeu, perdeu, perdeu, berra o capitão. Vendo que não romperia o cerco, o criminozinho de tênis, camiseta escolar e bermuda, teve bom senso e ergueu os braços. Os cinco polícias com suas metralhadoras nas mãos, avançaram uns dois ou três passos. Não sei precisar quem começou mas foram muitos ratatatata tas. Então, o capitão, com a ponta do seu tênis, cutucou o ex-bandido, agora morto e gritou triunfante, já era mané, já era. Depois o grupo se recompôs e partiram para uma nova diversão. Eu fiquei ali na janela pensando em como desfiguraram a brincadeira. Ou será que não? Ou seria isto tudo uma nova versão atualizada da forma de combater o crime? Nenhum dos meus colegas de infância se tornaram polícias ou ladrões, mas se um desses meninos que hoje eu vi brincar se tornar um policial, qual será o seu referencial? Fui para a sala assistir o noticiário; invasão de morro, vinte mortos. Dezoito traficantes, uma criança e um policial. Desliguei a tv. Fiquei com a preocupação de que a pena de morte se torne algo institucional, decidida sem júri nem juiz, apenas no calor de um momento, na ordem dada por um capitão Nascimento.