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segunda-feira, 21 de abril de 2008

EU QUERO O MEU SERTÃO DE VOLTA

Ricardo César Bezerra de Morais

Anselmo Alves
Produtor cultural
Nos últimos dez anos tenho viajado freqüentemente pelo sertão e assistido, nãosem revolta, a um processo cruel de desconstrução da cultura sertaneja com aconivência da maioria das prefeituras e rádios do interior. Em todos os espaçosde convivência, praças, bares, e na quase maioria dos shows, o que se escuta émúsica de péssima qualidade que, não raro, desqualifica e coisifica a mulher eembrutece o homem.O que adianta as campanhas bem intencionadas do governo federal contra oalcoolismo e a prostituição infantil, quando a população canta 'beber, cair elevantar', ou 'dinheiro na mão e calcinha no chão' ? O que adianta o governoestadual criar novas delegacias da mulher se elas próprias também cantam erebolam ao som de letras que incitam à violência sexual? O que dizer de homensque se divertem cantando 'vou soltar uma bomba no cabaré e vai ser pedaço deputa pra todo lado' ? Será que são esses trogloditas que chegam em casa, depoisde beber, cair e levantar, e surram suas mulheres e abusam de suas filhas eenteadas? Por onde andam as mulheres que fizeram o movimento feminista, tãoatuante nos anos 70 e 80, que não reagem contra essa onda musical grosseira eviolenta? Se fazem alguma coisa, tem sido de forma muito discreta, pois leio ostrês jornais de maior circulação no estado todos os dias, e nada encontro quequestione tamanha barbárie. E boa parte dos meios de comunicação sãoconiventes, pois existe muito dinheiro e interesses envolvidos na disseminaçãodessas músicas de baixa qualidade.E não pensem que essa avalanche de mediocridade atinge apenas os menosfavorecidos da base de nossa pirâmide social, e com menor grau de instruçãoescolar. Cansei de ver (e ouvir) jovens que estacionam onde bem entendem,
escancaram a mala de seus carros exibindo, como pavões emplumados, seusmoderníssimos equipamentos de som e vídeo na execução exageradamente alta doscds e dvds dessas bandas que se dizem de forró eletrônico. O que fazem ospromotores de justiça, juízes, delegados que não coíbem, dentro de suas áreasde atuação, esses abusos?Quando Luiz Gonzaga e seus grandes parceiros, Humberto Teixeira e Zé Dantascriaram o forró, não imaginavam que depois de suas mortes essas bandas que hojese multiplicam pelo Brasil praticassem um estelionato poético ao usarem o nomeforró para a música que fazem. O que esses conjuntos musicais praticam não éforro! O forró é inspirado na matriz poética do sertanejo; eles se inspiramnuma matriz sexual chula! O forró é uma dança alegre e sensual; eles exibem umacoreografia explicitamente sexual! O forró é um gênero musical que agrega váriosritmos como o xote, o baião, o xaxado; eles criaram uma única pancada musicalque, em absoluto, não corresponde aos ritmos do forró! E se apresentam comobandas de 'forró eletrônico'! Na verdade, Elba Ramalho e o próprio Gonzaga jáfaziam o verdadeiro forró eletrônico, de qualidade, nos anos 80.Em contrapartida, o movimento do forró pé-de-serra deixa a desejar na produçãode um forró de qualidade. Na maioria das vezes as letras são pouco criativas;tornaram-se reféns de uma mesma temática! Os arranjos executados são parecidos!Pouco se pesquisa no valioso e grande arquivo gonzaguiano. A qualidade técnica evisual da maioria dos cds e dvds também deixa a desejar, e falta uma produçãomais cuidadosa para as apresentações em geral.Da dança da garrafa de Carla Perez até os dias de hoje formou-se uma geração quese acostumou com o lixo musical! Não, meus amigos: não é conservadorismo, nemsaudosismo! Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho! Que o digamChico Science e o Cordel do Fogo Encantado que, inspirados nas nossas matrizes
musicais, criaram um novo som para o mundo! Não é possível qualidade de vidaplena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual eao alcoolismo!Escrevendo essas linhas, recordo minha infância em Serra Talhada, ouvindo omaestro Moacir Santos e meu querido tio Edésio em seus encontros musicais, cadaum com o seu sax, em verdadeiros diálogos poéticos! Hoje são estrelas no céu doPajeú das Flores! Eu quero o meu sertão de volta! Ainda bem que podemos contar com Flávio José, apontado por Dominguinhos comoseu herdeiro; o patriarca Antônio Barros com suas Cecéu e Maíra; SantannaCantador, natural de Juazeiro de Padre Cícero e com um timbre muito semelhanteao de Gonzaga; e outros astros do forró de pé de serra, para os quais avulgaridade do duplo sentido pornográfico das 'bandas' eletrônicas (como aCalcinha Preta) não é somente uma questão de decência, mas de sobrevivência,impedindo que o forró de pé de serra seja sepultado no sertão pelocomercialismo urbano das bandas de Manoel Gurgel.
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2 comentários:

Unknown disse...

realmente... concordo contigo.. ta uma bagunça isso.

Antonio Sávio disse...

Isso tem que acabar urgentemente. A questão é quem vai ser o testa de ferro para por isso ao pé da letra em escolas. Se isso não for combatido com rigor em escolas não adianta nada. Estamos em um estado de complena anomia moral. Pergunte a um SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO ou a um PREFEITO se ele tem isso em conta, como prioridade em seus governos? Nem passa pela cabeça o que seja a ideia de moral e honestidade uma vez que sejam imorais e desonestas. Isso país é de fato um país de castrados.